sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A CARTA QUE NÃO SERÁ ENTREGUE

Belo Horizonte, 28 de dezembro de 2012


Queridos irmãos e irmãs,


Ontem para mim foi uma noite muito triste. Após a ressaca de um natal desproporcional na alegria e organização de outros anteriores recebi um telefonema da mana Morgana indignada com o comportamento da Cássia. Na conversa que ela teve comigo traduzia parte do pensamento de todos nós, que no entanto nos abstemos de assumir, porque  fica mais fácil lavarmos as mãos, qual Pôncio Pilatos, diante dos fatos.
A própria Cássia já verbalizou que ela até mora na casa da mamãe, mas quer distância dela para preservar a filha. E mais, que não aceita ficar com ela nos finais de semana nem feriados. 
O fato da mamãe nos deixar confusos em seus momentos convicentes de lucidez também pertuba. É ela própria, inclusive, que cria situações conflituosas e depois se omite. Sabemos que não estamos conseguindo lidar com imparcialidade diante do que ocorre. A fragilidade emocional e física dela também é cada vez mais vísivel. Cada filho tem se refugiado com sua angústia no canto mais confortável do seu lar. Compreensível, não fosse a realidade nua e crua que se revela cada vez mais forte e que provoca reações imprevisíveis que necessitam de intervenções urgentes para não se transformar em caos.   
Diante deste esclarecimento, vamos ao desabafo da Morgana.
 Segundo ela, e vísivel e perceptível para todos nós, a mudança da Cássia para o Prado só revelou despreparo na condução de uma situação que já se apresentava problemática desde a mudança para lá da Danielle.
Fazendo um parêntesis, me lembro que, na ocasião, eu comentei com a Gilda que  trabalhava conosco em um projeto na PBH e voltávamos juntas, o quanto me incomodava a situação que provocava na mamãe crises nervosas. Naquela ocasião o desafeto dela era a Maria Eduarda filha da Dani. Mais uma vez, a única a expor a tragédia que se avizinhava foi a Morgana. Mamãe a detestou pelo escândalo que ela deu ao cobrar da  Dani o que de fato ali acontecia e que, mais uma vez, todos nós irmãos víamos mas,  por omissão, covardia, ignorância ou comodismo não enxergávamos.
 Começava a temporada da descoberta do mal que acometia nossa genitora. Não foi de nenhum de nós a busca pela verdade dos fatos, que apesar de visíveis no comportamento adulterado da então frequentadora da Igreja e das atividades da Paróquia de Cura D' ars, ignorávamos. 
Foi por um momento percebido por uma das integrantes do movimento social da Igreja, que a encontrou sem a bolsa e tampouco sem saber onde estava e a levou de carro para casa  que, ao me me comunicar sobre o episódio, me alertou sobre o Mal de Alzehemer.
Aquele momento para mim continua sendo indescritível. Do tanto que ainda me dói ressalto a percepção da impotência de não poder salvar a vida viva. A falta do meu filho é dolorosa. Inexorável a vontade de ter sua presença física. Mas ele é perceptível. Íntegro em sua  presença espiritual, e perseverante para acalentar o sofrimento que me aflige.
O que me acomete no entanto , no momento, é o sentimento de estar em um museu de cera. Vejo minha mãe, linda como sempre foi. Mas, se esvaiu  o brilho do seu olhar humano. O seu sorriso não é mais verdadeiro. E, por favor, não me digam que  palavras  saiam dos seus lábios e  sejam verdadeiras. Hoje a mamãe é apenas um espectro de si mesma.
Comentei com a Marilda, hoje, que sequer ela se lembra de rezar por nós. Em um grupo de oração em Pequi, em nossa casa, lembrou de rezar por tantos, menos por nós.
Enfim, voltando ao desabafo e cobrança de atitudes de nossa parte em relação ao que atualmente e realmente acontece na casa da nossa mãe coaduno com todas as opiniões emitidas por Morgana, mesmo porque, já havia  a muito mais tempo as expressadas da mesma forma, porém sofrido uma intensa retaliação.
Sinto,  e muito, por minha irmã Cássia que talvez ainda não tenha percebido o tanto a mais que a amo. Talvez, é só uma última tentativa de fazer com o que o coração dela ouça : Maninha Deus tudo vê , tudo pode, nos ouve e o tempo dele não é com certeza o nosso. Mas se a essência da nossa vida, que é a alma, não se afinar com os nossos sentimentos, tudo estará perdido. Não há amor que resista ao ódio!

Márcia Cesar.


 



FACE ALFACE

Ando com preguiça. O face  virou um alface, tal qual, sem gosto e novidade. Reduto de alguns poucos, que ainda se alinham com a perpectiva de instrumento de desalienação.
Acho que a idade vem me pegando de jeito e estou mais seletiva. Não consigo dar desconto nos créditos para aqueles vislumbrados e deslumbrados na exposição do cotidiano de suas vidas. A miscelânea produzida e reproduzida em poucos segundos sem promover o prazer de emoção acabou por me fazer pensar assim. Ainda procuro por alguns que admiro. No entanto... sumiram. Percebo que, tanto como eu, perceberam que  a leviandade  e exposição desnecessária fizeram desta rede apenas uma coluna social mal acabada.

FIM DO MUNDO

Ando percebendo que o mundo está mesmo se esvaindo aos poucos. Não esta concretude formada de prédios, montanhas e casas suntuosas que se destrói vez ou outra  surpreendida pelos mistérios da natureza. É dentro de nós que ele se vai findando. São os amores enegrecidos pela dor e revolta que não são verbalizadas. É a opção de passar sozinho o grande momento eternizado em outros tantos com os cumprimentos de feliz natal. É a verdade que se cala e não comenta o desprezo pela lembrancinha tecida com carinho mas sem o valor do metal destruidor e poderoso de todas as eras. No sorriso da criança já se desenha a invasão do consumismo escravo. No olhar das pessoas se reflete o desdém ou a cobiça pelo objeto apresentado como presente.O calor que envolve os sentimentos puros não mais se sente no abraço. Mecanizados os braços desumanos se  apoiam  em mesas cobertas de comida e  recheadas da podridão da competição desenfreada para expor uma pseudo riqueza. Se existe a dúvida de que algo acabou é só olhar para os lados onde estão os personagens de sua vida. Enxergue estes atores alienados e perdidos com suas falas e protagonismo. Perceba o vômito ardido de suas palavras e reconheça que se não houver mudanças de paradigmas que ditem a alma simples e perdida de sentimentos outrora tão espontâneos o mundo deveras foi perdido.

Somos quem somos porque queremos.

É sério! A gente tem a chance de sonhar os sonhos que a gente quer. Daí a realizá-los é uma questão pessoal de luta, discernimento e vontade de vencer!

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Sou na luta pela vida, alguém que não desconhece seus iguais. Sonha com a pureza de realizar algo que consiga sensibilizar o rude de coração e convencer o incrédulo que o amor existe se a gente deixar de amar só a nós mesmos.