domingo, 29 de junho de 2008

Essa reportagem foi avaliada como uma das melhores sobre: Etica na profissão. O professor e editor do caderno de cultura do jornal Hoje em Dia, Cesar Macedo, registrou como uma matéria ótima e com muitas fontes e informações.

O DESAFIO DA ÉTICA NA ARTE DE EDUCAR

Márcia Cesar

A ética no exercício do magistério é um dos grandes desafios do educador. Partindo do pressuposto que o professor é o condutor do processo de formação ético- moral do aluno é natural que ele adote a si mesmo como modelo. A arte de educar através de seu próprio exemplo referencia seus ensinamentos. Da educação básica à universidade o profissional da educação é comprometido com os princípios éticos e forma a base do crescimento pessoal dos seus educandos e de si mesmo. O uso do código de ética visa apenas disciplinar a conduta do profissional. Aquele consciente e de boa formação moral, mesmo que não conheça o código de ética, não o infrigirá.

IDEB O índice de Desenvolvimento da Educação (IDEB) relativo a 2007 mostra evolução no desempenho dos estudantes, que atingiu as metas propostas. Numa escala de 0 a 10, o ensino fundamental teve 4,2 da 1ª a 4ª série, ante 3,8 em 2005. Da 5ª a 8ª, o índice pulou de 3,5 para 3,8, no ensino médio, de 3,4 para 3,5. Em relação às metas , o ensino médio evoluiu pouco, mas, assim como o fundamental, já atingiu a meta de 2009. O objetivo do IDEP além de estipular metas de melhorias, para escolas,municípios, e Estados é unir em um mesmo indicador as notas e taxas de aprovação. Uma tentativa de sinalizar que não adianta aprovar um aluno que não aprendeu. No entanto, apesar da evolução no desempenho dos alunos, a qualidade do ensino é questionável. As escolas geradas por cada governo e os modismos pedagógicos são alguns dos vilões nesse processo.

INVERSÃO A especialista em educação, Daniella Reis Farinha, 36 anos, é supervisora da Escola Estadual Coronel Fulgêncio localizada no bairro Ouro Preto, em Belo Horizonte.“A responsabilidade e o compromisso ético do professor são presentes na relação entre professor e aluno e constituem a ponte de ligação entre o conhecimento e a aplicação desses conhecimentos na vida”, analisa a supervisora. Segundo ela, Subverter essa ordem é não zelar pelo bom exemplo. “Sem esse compromisso o educador provoca a inversão de papéis e promove a descrença nos valores éticos”, explica Daniella. Ela ressalta que o professor não pode negar-se o dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica do educando. Ao assumir a sua prática o educador deve assumí-la com ética. “ Será das crianças que educamos hoje que partirão as mudanças renovadoras da sociedade de amanhã”, diz ela. A especialista comenta que já trabalhou em escolas particulares e públicas e em todas elas encontrou, ao lado de bons profissionais, aqueles sem nenhum compromisso com a função. Ela deu o exemplo de um profissional que chegou ao “absurdo” de, durante todo o ano, dar aulas de inglês sabendo muito pouco do conteúdo. Ela critica o profissional que adota atitudes como, essas. “Um total desrespeito com o aluno pois, ainda que o professor graduado em letras tenha o direito de pegar aulas de outro idioma, ele está negando o acesso do aluno ao conhecimento”, explica.

ÉTICA Já a falta de ética na escola que atende alunos de um dos conglomerados mais violentos da cidade é relatado por M.R.P. A professora se identificou apenas pelas iniciais do seu nome. Ela conta que a ética passa longe do comportamento adotado pela maioria dos professores que ali atuam. “Os alunos não nos oferecem possibilidades de realizar um trabalho de resgate de cidadania, eles já chegam à escola com um histórico de vida de dar arrepios”, afirma. Ela diz que é difícil lidar com alunos assim. “A linguagem deles só nos dá a opção de falar a língua que eles entendem”. Confessando-se decepcionada com a profissão ela não “vê a hora” da aposentadoria. “É impossível pensar em ética na profissão em uma escola como essa , aqui é falar a língua deles ou esquecer, de vez, que é professora”, complementa.
Localizada na favela do Cafezal, a Escola Municipal Levindo Coelho busca soluções para tratar de problemas semelhantes. Sob a coordenação da pedagoga e professora, Morgana Brandão Nunes, 48 anos, é desenvolvido um projeto de inclusão social. Ela confirma que o exemplo de M.R.P. é o de muitos professores hoje em dia. “Realmente não é fácil lidar com essa clientela que traz uma experiência de vida pautada em exemplos de violência e abandono”, diz a pedagoga. A Escola optou por buscar parcerias na iniciativa privada. Morgana coordena um projeto que oferece atividades esportivas e oficinas de artes. O aluno é incentivado à adoção de princípios éticos no comportamento de seu dia a dia.
Segundo ela, o objetivo maior do projeto é dar uma visão mais positiva do nosso mundo. Os requisitos básicos para o profissional trabalhar no projeto são a identificação com a proposta e a adoção de uma postura ética na prática das atividades. “O magistério é quase um sacerdócio e é com dedicação, paciência, amor e ética diante da profissão que conseguimos desenvolver um trabalho baseado em uma relação, de respeito e admiração, entre aluno e professor”, explica a pedagoga.

PARÂMETROS Na Escola Municipal Marconi o atendimento se estende aos alunos do ensino médio. Apesar da localização na zona sul atende alunos de várias regiões de Belo Horizonte. Esse ano conseguiu o primeiro lugar no exame do Enem dentre as escolas municipais. O diretor Alírio Amaro de Araújo Abreu, 60 anos, ressalta que quando vivemos a autenticidade, exigida pela prática de ensinar – aprender, participamos de uma experiência total, diretiva, política, ideológica, pedagógica, estética e ética. “A responsabilidade deve achar-se de mãos dadas com a decência e a serenidade”, diz ele. O diretor acrescenta que a moral e a ética são parâmetros de trabalho na função do magistério. “Os professores trabalham os valores, nos quais acreditam, com verdade que podem ser comprovadas”, afirma o diretor.

DESCASO A ex-professora de História das Faculdades Pitágoras, em Montes Claros, Maria Lúcia Amorim, desenvolve um estudo sobre a ética no exercício do ensino universitário. A importância do tema chama a atenção por causa das suas particularidades. “A prática educativa deve ser coerente com os padrões éticos que regem a sociedade, pois somos os responsáveis pela construção do processo ético do indivíduo e dele fazemos parte desde o início”, argumenta. A professora destaca que vem observando uma mudança “para pior” com relação à ética dos profissionais da educação. Ela aponta que nas faculdades particulares o problema é ainda maior. “Parecem que se esqueceram dos princípios éticos que regem a função do ensino e com isso as faculdades particulares rompem com os laços do bom senso e só visam o lucro, pois o que observo é grande parte dos alunos, que ingressam nessas faculdades, serem aprovados por um critério que exige, apenas, um desempenho mínimo na habilidade de ler e escrever”.
Maria Lúcia destaca que na etapa do ensino superior é esperado que o aluno adquira conhecimentos suficientes para capacitá-lo ao mundo do trabalho.
Segundo ela, o grande paradoxo no ensino superior é o aluno não encontrar suporte necessário para desenvolver o pouco do saber que trás da educação básica e do ensino médio. “É como se sacramentasse a máxima que permeia toda a vida estudantil: o professor finge que ensina e o aluno finge que aprende referendado o total descaso pelos procedimentos éticos na educação”, diz ela.
A professora também critica as alegações de salários baixos e escolas mal equipadas como argumentos para essa falta de compromisso do educador. “Sei de casos de professores que usam da desculpa de que ganham mal e que as escolas não têm material adequado, para justificarem aulas de cuspe e quadro”diz ela. Maria Lúcia condena o uso da profissão do magistério como “bico”. Ela considera atitudes como essa de “cúmulo” da falta de ética.

SOLUÇÃO Em entrevista coletiva o ministro da Educação, Fernando Haddad, diz acreditar que a divulgação dos índices do IDEB faz com que as escolas tenham um diagnóstico mais preciso dos seus problemas. “O casamento entre o que se ensina e se avalia”, analisa o ministro. Para os professores a luta continua em busca de soluções que propiciem melhores resultados na educação.

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Sou na luta pela vida, alguém que não desconhece seus iguais. Sonha com a pureza de realizar algo que consiga sensibilizar o rude de coração e convencer o incrédulo que o amor existe se a gente deixar de amar só a nós mesmos.